Tragédias mudam o comportamento das pessoas?

Eu não vou comentar diretamente a tragédia que aconteceu na madrugada de domingo numa casa de shows na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, porque muito se tem falado na TV sobre as perdas humanas que ocorreram e você já deve estar a par do ocorrido. 

Sobre tantas perdas humanas, só me resta fazer coro aos que acompanharam a tragédia pela TV e desejam força aos familiares e amigos que perderam pessoas queridas nesse incêndio   (vendo esse link com os nomes e algumas fotos das pessoas que morreram, é quase impossível não pensar no quanto a vida parece realmente curta). 

Flores colocadas na frente da boate Kiss - imagem via O Globo

O que gostaria de comentar no blog é que, entre tantas especulações e informações,  muito se falou sobre o elevado numero de mortes ter sido causado porque as pessoas não conseguiram sair da casa de shows porque não havia saídas de emergências suficientes. Pelo que entendi, no local havia uma unica porta de entrada/saída. Diante disso, muito se falou para que as pessoas, ao entrarem nos locais, observem se há saídas de emergência...

Vamos ser honestos: raros são os que observam ao chegar numa casa de show, cinema e teatro, se há saídas de emergências  da mesma forma como não observamos as cozinhas dos restaurantes onde comemos e nem evitamos o churrasquinho que o tiozinho vende na rua... Tão comum essa prática que a multidão que não observa chama os poucos que observam de paranoicos. 

Não deixa de ser curioso, se pararmos para pensar, que gastamos horas escolhendo uma roupa, uma TV, um sapato... Mas cadê da gente gastar tempo olhando cozinhas ou checando saídas de emergência? 

E fala sério... Quantas pessoas você acha que depois dessa tragédia vão começar a reparar se há saídas de emergência? E quantas das que olharem, se acharem que na hora da correria não vai dar para todos saírem, vai deixar a balada por causa disso?

Tem algumas pessoas falando que o pessoal das redes sociais poderia começar a informar as casas que não são seguras. Olha, informar as casas que não são seguras, eu acho difícil, porque tem muitos detalhes, desde material usado na decoração das casas a data de validade do extintor, mas creio que a ideia é boa vide o tanto de gente nas redes sociais que frequenta as baladas, inclusive postando foto com amigos. Pelo menos o básico, a galera podia começar a divulgar. Não custa dizer "tô em tal lugar, está dando para circular legal", " deve ter mais gente do que cabe, está difícil circular pelo lugar", "Tô vendo fácil/ ou não dá pra ver saídas de emergência",  "Vim almoçar em tal lugar, não me deixaram olhar a cozinha", " pessoal que trabalha tá com aparência de sujo", "Em tal lugar me levaram pra ver a cozinha numa boa/ gostei, tem lá sua bagunça normal de cozinha, mas tudo tá limpinho". 

Uma dúvida minha, em se tratando de fiscalização legal, foi que muitos programas informaram que a casa estava com o alvará do corpo de bombeiros vencido... Ok, mas se estava vencido, sinal que antes de vencer, a casa estava com o alvará em dia... Então antes havia mais portas, certo? Porque se o corpo de bombeiros agora diz que aquela única entrada/saída não está de acordo com as normas de segurança, como podia estar antes se não havia outras? 

Sim, não é sua obrigação checar a segurança ou a higiene de onde você está, mas é seu direito. Você pode não fazer uso dele e se acontecer algo de ruim os proprietários vão ser processados... Mas a cadeia que eles podem pegar ou a grana que eles podem perder não vai evitar a morte ou as sequelas que você pode vir a ter porque eles foram irresponsáveis ou outros foram subornáveis. 

Não é questão de ficar paranoico examinando a data dos extintores ou checando a data do queijo na geladeira do restaurante, porque nem os paranoicos estão livres de morrer num incêndio ou ter uma infeção intestinal, mas algumas vezes só checar se há portas pra fugir do local se precisar ou perceber uma cozinha onde a palavra IMUNDA está no ar pode evitar muito sofrimento ou uma dor de barriga. 

E provavelmente se as pessoas começarem a questionar a segurança ou a higiene dos lugares, se isso virar hábito nas redes sociais, os proprietários vão fazer a parte deles. Não porque eles se preocupam com a vida dos seus clientes, mas porque amam a grana deles. 

E tudo bem, não acho que serão piores por causa disso, mas se é para fazer negócio, vamos fazer direito; você se diverte e gasta a sua grana e eles garantem que você vai poder voltar outras vezes. 

Para mim, parece um negocio muito justo, afinal, se as pessoas que podem morrer não mudam o comportamento delas quando outras pessoas, tão parecidas com elas, morrem, porque você acha que os donos de casas noturnas espalhadas pelo país mudariam só porque uma casa de shows, entre milhares, pegou fogo?

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